Background


A Universidade foi fundada sob a hipótese de que o conhecimento não é apenas um meio de resolver as demandas materiais imediatas, mas é acima de tudo um bem necessário para iluminar o espírito humano. O projeto de uma Universidade para o século XXI deve estar sustentado pela necessidade de explorar novos caminhos que aproximam a Universidade de seus valores essenciais: descobrir, inventar e pensar criticamente. Enquanto elegendo a pesquisa como principal instrumento para atingir seus objetivos últimos, a Universidade deve ter um projeto educacional que encoraje os estudantes a fazer suas escolhas pessoais, a correr riscos, aceitar desafios e pensar criativamente. Educação imersa num ambiente de pesquisa.

O Espaço Alexandria e sua missão específica
Ao Espaço Alexandria não compete nem este se confunde com as unidades clássicas implantadas na Universidade. É uma iniciativa destinada a abrigar projetos de pesquisa que necessitam, pela sua originalidade, seu tempo de maturação e sua ousadia, de um apoio especial, pois que negados atualmente pelos órgãos tradicionais de apoio à pesquisa. Estes, preocupados com impactos sócio-econômicos à curto prazo, com detalhes metodológicos engessados que muitas vezes determinam a aprovação da proposta, tendo como base uma avaliação de desempenho contábil, isto é, de número de publicações. No Espaço Alexandria - EA - desenvolvem-se aventuras intelectuais, encontros improváveis, no sentido que se vislumbra o topo do conhecimento em que se pretende chegar, mas ignora-se o caminho; não existem respostas ou pistas fáceis, à disposição. Não existem atalhos pré-estabelecidos. Quando muito parte-se de uma conjectura. De certa forma, é o contraponto do que se faz na esmagadora maioria dos casos apoiados pelos Órgãos de Apoio à Pesquisa - OAP - em que se vêm metodologias e ferramentas bem postas, vias bem testadas, e caminha-se com a convicção de se oferecer resultados porque a pergunta é feita com a certeza de se obter resposta.

Em resumo, na pesquisa apoiada no EA, a pergunta gera novos caminhos. No EA as ferramentas devem ser descobertas e inventadas para tentar responder às pergunta. Para as OAP, o processo é inverso, as perguntas são geradas pelas ferramentas disponíveis. Uma consequencia óbvia é que a taxa de sucesso dos projetos apoiados pelas OAP deve ser bem superior àquela que se possa prever para os projetos do EA, sobretudo em se tomando como critérios as clássicas referências à contabilidade da produção de artigos e "satisfação do cliente". No entanto, se a medida for o impacto científico que faz com que certos setores da ciência mudem de rumo ou que se abra novas vias de investigação científica e tecnológica, os projetos desenvolvidos no EA terão, potencialmente, sucesso muito superior.

Se nós nos contentarmos em sermos apenas aplicadores de idéias geradas em outros lugares, se nos conformarmos em caminhar por vias abertas por outros, bem exploradas e sem riscos, para acrescentar mais um pequeno resultado na enciclopédia do conhecimento mundial, ficaremos prisioneiros mais uma vez. Se nossas perguntas permanecerem acorrentadas a ferramentas e achados de outros, vamos acabar na mediocridade do caminhar em círculos, pensando que estamos avançando.

O EA tem como objetivo precípuo, portanto, proporcionar condições para o desenvolvimento de pesquisa cujo alvo à médio e longo prazos seja realizar grandes saltos no conhecimento.

Com adaptações pontuais do original de autoria do Professor Emérito Luíz Bevilacqua - Coordenador Espaço Alexandria.

O Grupo Anatomia das Paixões junto ao EA:
LabAteliê de Epistemologia Experimental

O grupo multidisciplinar Anatomia das Paixões, em parceria com outros grupos e colegas da Universidade e extramuros, pretende discutir, investigar criticamente e testar experimentalmente a hipótese de que no processo de criação do conhecimento científico, a experimentação de trânsitos cognitivos complexos, de conteúdo simbólico, metafórico, inefável, relegados ao sistema de criação artística e de exaltação afetiva, poderia contribuir decisiva- e positivamente para os grandes saltos da razão. Numa contracorrente do pensamento científico vigente, uma análise objetiva mais alargada e profunda do problema científico poderia beneficiar-se da contemplação de base subjetiva, em níveis de inspiração. No exercício de perscrutar ordens impressas para além dos correlatos algorítmicos ora evidenciáveis pelo olhar que privilegia a lógica discursiva em detrimento das demais vivências cognitivas, propomos a testagem de uma nova conduta racional, numa razão que se abra ao benefício de vivências "não racionais", no sentido estrito do termo. Ainda que preservados os velhos trilhos do método experimental em ciência, o alargamento das possibilidades de formulação de hipóteses e de metodologias de testagem poderia advir de nosso contato com as cargas simbólicas de equivalência funcional, sistêmica, que permeiam nossos objetos de interesse científico.
Adaptado de Fróes MM. O Sonho de Descartes. Livro de Anais do Congresso Scientiarum Historia III, 2011 (no prelo).